| j´aime tecktonik |

ontem aventurei-me na chic, transformada numa espécie de my own private metropolis de paris, só que no porto.
após atravessar o mar de juventude hormonizada, rapazes e raparigas com média de idades tão baixa quanto o limite legal para o consumo de bebidas alcoólicas e ter sido apresentado à Catarina, a menina encarregue de me fornecer bebidas à la carte, depois de se ter encantado pelo meu cachecol, aguardei pela entrada dos danceurs.

a espera levou-me a classificar mentalmente as pessoas que por lá circulavam. Estas dividiam-se em grupos: as raparigas que partilham pulmões e outros órgãos vitais e que lhes é impossível circular sem ser atreladas umas às outras com as correntes da bershka, calcando e empurrando as pessoas para passar; os rapazes que mantêm um arco impossível nas pernas, formando um ângulo interior de mais de meia ogiva, como se ainda guardassem a bola dentro da ganga; e os neo-gunas, aqueles que começam todas as frases com um «óbe lá» e acabam-na com um «gande cena», mas sempre vestidos com lindos casacos de marcas dispendiosas. Todo este processo fez com que o tempo se escoasse mais depressa e que rapidamente surgissem os protagonistas da noite, a crew tecktonik.

quatro rapazes provocaram o delírio de grande parte dos voyeurs da noite. ouviram-se gritos tão estridentes quanto a nota techno mais aguda do set musical.
gostei bastante, apesar de estar com expectativas um pouco mais altas, mas não me senti defraudado. Também apercebi-me que a receita é "relativamente acessível" para dançar como os referidos jovens.

para tal "basta" que:

-parta o cúbito, rádio e húmero dos seus braços e os abane com violência como se quisesse afastar um enxame de abelhas africanas. O desgoverno do movimento terá encanto certamente;

-quando estiver mais à vontade, pode também partir o fémur, rótula e tíbia, para efeito semelhante e descreva circunferências em redor do corpo, junto ao chão. O desequilíbrio do corpo fará de si uma espécie de dançarino contemporâneo;
- «tight-fitting jackets and slim-fit jeans (...) gothik hair cuts and wear makeup designs such as a star around one eye», ténis-bota da nike, serão o combinado a nível de indumentária e afins mais adequado (não esquecer que quando lhe tirarem fotos convêm sempre inclinar a cabeça para um dos lados e fazer letras do alfabeto com os dedos, preferencialmente V´s, I´s, U´s e outras que a vossa ginástica fina permita).

mas, no meio desta espécie de paródia mental gostei muito...i want to be a tecktonik dancer!

| fassbinder-café |

é tão bom ser desafiado a um café em que o mote é fassbinder. esta dose de cafeína foi-nos servida no teatro nacional de são joão a partir de uma tradução de claudia fischer, com (um muito bom) desenho de luz de rui simão e com música ao vivo por tatsumaki. aproximadamente 140 minutos que poder-se-iam prolongar por muitos mais, porque o prazer ultrapassou a superficialidade.

o café de goldoni é um lugar social concreto pelo qual passa um bando de inúteis pertencentes à burguesia italiana de outros tempos, entre o dinheiro e os jogos amorosos, revelando uma perfeita afinidade com os mecanismos da comédia, as suas intrigas, vigarices, negociatas (...) (in, programa da peça)

importa ainda destacar o papel do quase discreto cambiante andante (baptizado assim por mim), que unicamente desconstruia a moeda desta farsa levando-a ao universo do dólar, euro e até (do ido) escudo, sempre após erguer uma qualquer carta de um baralho.

prendi-me ainda aos momentos de revelação ao microfone que, ao serem ampliados e amplamente expostos através do recurso à câmara de filmar, faziam de nós violadores do pensamento íntimo de cada personagem, voyeurs de palavras...

| gato preto |

gato preto, que infortúnios trazeis?

| nature |

je suis la nature

| phonºnoir |

...numa cidade cheia de escuros paralelipípedos aparelhados é normal apaixonarmo-nos pela circularidade destes cd´s...
matthias grubel joga com instrumentos e brinquedos com a candura que remete às cocorosie... atropela-se com sons numa vaga experimental/electro acústica, onde os títulos das músicas sugerem-me quase haikus...

tem três cd´s editados, no more sad dreams (07), the objects don´t need us (07) e putting holes into october skies (06)...

http://www.myspace.com/phononoir

| bake me |

às vezes tenho a mania das palavras e depois atiro-as ao rio para ver se flutuam...
ao passarem no teu moinho

moi o meu coração

e faz pão para matar a fome do mundo...

| maravilhoso |

hoje descobri mais um livro maravilhoso, indicado para uma criança grande ou um grande filósofo... o livro dos grandes opostos filosóficos

esta semana tem sido profícua em descobertas e tudo se torna mais fantástico quando se tratam de livros. afinal, para além da descoberta do objecto em si, descobrimos também todo um universo que advém da sua leitura...cheguei a sentir-me feliz!

a unidade e a multiplicidade, o finito e o infinito, o ser e a aparência, o corpo e o espírito, são alguns dos opostos explorados, com uma escrita sublime e uma ilustração que atinge a perfeita adequação. obrigado oscar brenifier e jacques després...

"aprendi" que cada um de nós oscila entre a razão e a paixão. em determinados momentos, não sabemos resistir à paixão, tal como acontece quando estamos apaixonados. noutros momentos é a razão que nos guia (...). mas se a razão e a paixão se opõem frequentemente, também é a sua combinação que permite criar e inovar. (...) o génio é talvez a combinação subtil dessas dua facetas da nossa personalidade, que nem sempre se dão bem.

já o devorei e decidi ventilar aqui algum do ar fresco que senti...

natureza e cultura

razão e paixão

«oh! como se me alonga de ano em ano
a peregrinação cansada minha!(...)»
que em tempos de sacrifício caminha
este meu corpo de soldado romano.

«vai-se gastando a idade e cresce o dano
perde-se-me um remédio que inda tinha (...)»
implodo o ponto do meu corpo que já não faz linha
destruindo qualquer altar profano.

«corro após este bem que não se alcança(...)»
por um porto que já não me dá abrigo;
por alguém que para mim já não dança.

«quando ele foge, eu tardo; e na tardança
se os olhos ergo, a ver se inda parece
da vista se me perde e da esperança»

com olhos de farol prendo os barcos em mim.

serei abrigo de amarras,

com gosto a sal e aroma de jasmim

camõeseu

ps: perdoa-me a ousadia do uso das tuas palavras

|há coisas assim...|

há dias em que entrar num café às 6 horas da tarde,pode revelar-se uma experiência tocante.

certamente o é quando a voz de angela silva se apresenta nas colunas camufladas de um sítio taciturno, onde se procura alimento para o físico, café e apenas metade de uma torrada, e se encontra alimento para o espírito.

ouve-se pasión e rodrigo leão aquece-nos a alma a temperaturas mais altas que a água que dilui a cafeína entretanto pousada no mármore frio da mesa gasta...

esta faixa, oferecida no disco compacto homónimo, é um doce raramente provado na zona do pavilhão auricular. adocica-me o sabor mesmo sem recorrer à artificialidade do cheesecake silvestre.

mas o sonho, sim, o verdadeiro sonho seria ouvi-la no início de uma noite fresca de verão, enclausurado dentro da muralha de um castelo de uma qualquer metrópole, esquecendo o eco das lamúrias dos mouros que lá dentro perderam o respirar...

e se houver um rio por perto, que seja de sangue, e se chover, que sejam lágrimas, para que os rogos da música aconteçam y aunque no tengas ganas, abrazame esta noche...

|...quidam...|

| quidam |

a contagem decrescente acontece...