20080929

janela

matosinhos.08
roubo a tua discrição e exponho-te à estagnação do captado...
podes fugir mas os meus olhos encontram-te...

20080924

será que se deste céu caisse chuva, cairia também cor?

ponderando essa possibilidade, espalharei folhas de papel branco no meu jardim...

20080922

| assim aconteceu na miguel bombarda |



Rómulo Cédran (duas últimas imagens). Desenho

20080918

| vento |

cresceram-me asas e, numa vontade pertinaz de fugir à certeza de newton, lancei-me ao céu...
sem a orientação inata de um pombo-correio perdi-me na similaridade da paisagem
e um angustiante alvoroçar fez-me ouvir o instrumental do choro...
-----------------------------------------------------
o vento persistente não deixou que as notas escorressem pela pauta
mantendo-as no aconchego do seu saco.
sem direito a rios salgados rosto abaixo
e afluentes oblíquos,
cultivo uma pele encrespada pelo rigor do elemento.
--------------------
aqui jaz, debaixo desta terra gretada,
um invólucro lacrimal impossibilitado de mostrar a sua música,
um lago vedado, andante sem ruído nos passos.
-------------------------
salgado,
contido,
instável,
impermeável,
rodeado por uma secura incompreensível,
pulverizadora de qualquer bolbo ou semente de girassol...
-------------------------------
suspenso,
mas sem jardim.

20080917

| ele |

ele come búzios...
quando fala só oiço o mar...

20080916

| ela |

ela usava um caderno de argolas em cada orelha...
gostava que as palavras lhe fossem sussurradas ao ouvido…

20080912

| |

(...)
Quando estou deitado e olho o corpo desenhado pelos lençóis sinto-me uma espécie de Lázaro.
A pedra que veda o túmulo podia bem ser a minha porta, mas ao contrário dele, não sairei desta câmara…se o fizesse seria sem o nível da sua pompa de ressuscitado…
Gostava sim, de sair para um mundo diferente daquele que habitualmente vejo lá fora.

Estou cansado da rectidão da minha rua, da vibração dos pneus na calçada, da previsibilidade das personagens dos espaços.
Preciso da inquietação da desorientação, do espanto do desconhecimento…
(...)
Entrego-me à minha efemeridade e ao colchão, na esperança vã de que ele me transporte em jeito de “tapete mágico” para a poeira da Medina…
(...)
Uma vela de chama instável poderia criar um rio de cera quente e alimentar os poros do algodão dos lençóis e a sua chama teria assim um caminho directo à minha perna esquerda.
Planeio o meu momento bíblico…
(...)
Deixo cair os braços em riste para fora do limite deste coclchão-tapete-jangada.
Talvez um tubarão mo coma e assim o leve ao fundo do mar, onde, mesmo sem vida, apanhará as estrelas que outrora caíram do céu…
Já em criança brinquei com esta mesma jangada e sofri com medo deste mesmo céu…

Não há limite para aquilo que se diz, quando na realidade, ninguém nos está a ouvir…