20080918

| vento |

cresceram-me asas e, numa vontade pertinaz de fugir à certeza de newton, lancei-me ao céu...
sem a orientação inata de um pombo-correio perdi-me na similaridade da paisagem
e um angustiante alvoroçar fez-me ouvir o instrumental do choro...
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o vento persistente não deixou que as notas escorressem pela pauta
mantendo-as no aconchego do seu saco.
sem direito a rios salgados rosto abaixo
e afluentes oblíquos,
cultivo uma pele encrespada pelo rigor do elemento.
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aqui jaz, debaixo desta terra gretada,
um invólucro lacrimal impossibilitado de mostrar a sua música,
um lago vedado, andante sem ruído nos passos.
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salgado,
contido,
instável,
impermeável,
rodeado por uma secura incompreensível,
pulverizadora de qualquer bolbo ou semente de girassol...
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suspenso,
mas sem jardim.