20080912

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Quando estou deitado e olho o corpo desenhado pelos lençóis sinto-me uma espécie de Lázaro.
A pedra que veda o túmulo podia bem ser a minha porta, mas ao contrário dele, não sairei desta câmara…se o fizesse seria sem o nível da sua pompa de ressuscitado…
Gostava sim, de sair para um mundo diferente daquele que habitualmente vejo lá fora.

Estou cansado da rectidão da minha rua, da vibração dos pneus na calçada, da previsibilidade das personagens dos espaços.
Preciso da inquietação da desorientação, do espanto do desconhecimento…
(...)
Entrego-me à minha efemeridade e ao colchão, na esperança vã de que ele me transporte em jeito de “tapete mágico” para a poeira da Medina…
(...)
Uma vela de chama instável poderia criar um rio de cera quente e alimentar os poros do algodão dos lençóis e a sua chama teria assim um caminho directo à minha perna esquerda.
Planeio o meu momento bíblico…
(...)
Deixo cair os braços em riste para fora do limite deste coclchão-tapete-jangada.
Talvez um tubarão mo coma e assim o leve ao fundo do mar, onde, mesmo sem vida, apanhará as estrelas que outrora caíram do céu…
Já em criança brinquei com esta mesma jangada e sofri com medo deste mesmo céu…

Não há limite para aquilo que se diz, quando na realidade, ninguém nos está a ouvir…

3 Comments:

Blogger Pedro_Berenguer said...

Que disse que não te ouvem? ;)

(Belo texto!)

September 12, 2008 at 11:01 AM  
Blogger Maria Brito said...

Anda a meus braços meu pequeno Lazaro que eu estou aqui para te ouvir.

September 15, 2008 at 2:59 AM  
Blogger LUix said...

:)

September 15, 2008 at 2:36 PM  

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