20081010

janela molhada

espreito o meio-barco flutuante que me trouxe.
lá dentro e perdido ao sabor da massa de água,
divido as lágrimas por ambos os olhos
para não perder o equilíbrio na jangada...
ofereço em sacrifício aquele que fora inspiração para josefa ayala, em tempo pascal...
ofereço-o, mas choro o primeiro golpe infligido,
que tinge de escarlate a sua alvura.
a noite cai
e apenas a música me faz levantar o olhar
por ter abafado os teus balidos...
após o teu silêncio,
mergulho no rio.
quero beber a água que lava a tua carne
e assim tingir-me com o teu sangue quente.
o meu corpo afasta-se obliquamente da madeira flutuante,
resignado à corrente fluvial
enquanto continuas a dormir,
coberto por um manto outrora alvo...

levanto os braços,
não para pedir ajuda,
mas para me despedir de ti...

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